Documento da Semana — Carlos Lacerda em oposição aos militares: a Frente Ampla por eleições civis
Veja aqui o documento da semana em destaque! Carlos Lacerda em oposição aos militares: a Frente Ampla por eleições civis.
Confira o documento na íntegra no nosso acervo: Memorando de Conversação escrito por Richard E. Schwartz para John Wills Tuthill relatando uma conversa com Carlos Lacerda

Carlos Lacerda foi um dos políticos mais importantes do Brasil do século XX – e, também, um dos mais difíceis de se caracterizar em poucas palavras. Após ter articulado e apoiado o golpe de 1964, passou para a oposição uma vez que ficou claro que seu sonho de chegar à presidência não seria possível com os militares no poder. Montou, então, um grupo suprapartidário chamado Frente Ampla entre 1966 e 1967, que reunia as maiores lideranças civis do Brasil – muitos dos quais cassados – em torno do tema da necessidade de redemocratização do país.
No documento desta semana, temos a oportunidade, a partir de um memorando de conversação do próprio Lacerda com um congressista norte-americano, de ouvir da boca do ex-governador da Guanabara sua percepção sobre a ditadura à época (setembro de 1967, início do governo Costa e Silva) e sua perspectiva acerca dos objetivos e intuitos da Frente Ampla.
Em que pese o fato de ser necessário analisar a narrativa de Lacerda a partir de um olhar crítico – mesmo tendo sido feita em um cenário privado, ela tinha um claro interlocutor, e isso pode ter influído na forma como o ex-governador da Guanabara se manifestou –, chama a atenção o fato de Lacerda prever a explosão de atividades guerrilheiras caso o regime militar não conduzisse uma abertura que permitisse o retorno dos civis ao poder até 1970. E, de fato, atividades guerrilheiras da esquerda se intensificariam exatamente a partir de 1968, sendo usadas como justificativa para a adoção do AI-5 em dezembro daquele ano.
Lacerda também apresenta uma rara autocrítica quanto à sua atuação política pré-golpe de 1964. O ex governador da Guanabara afirma, por exemplo, que ele teria sido um dos responsáveis por incitar os militares a intervir na política nacional, tendo conclamado os militares a intervir sempre que entraves apareciam. Agora, concluiu Lacerda, os militares tomaram gosto pelo poder e não querem mais largá-lo. Lacerda não imaginava, àquela altura, que esse gosto pelo poder resultaria em uma ditadura de 21 anos.
Prof. Dr. Felipe Loureiro,
Vice-coordenador do NACE CNV-Brasil,
Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo