Documeno da semana! Conspirações por todos os lados: a repressão da ditadura aos protestos estudantis por melhorias
Confira o documento na íntegra no nosso acervo: Memorando de conversação do Consulado dos EUA em Porto Alegre para a Embaixada de Brasília sobre as manifestações estudantis
Conspirações por todos os lados: a repressão da ditadura aos protestos estudantis por melhorias
O ano de 1968 foi marcado por intensos protestos estudantis em várias partes do mundo, sendo as manifestações de maio na França as mais famosas. No Brasil, que à época vivia o segundo governo ditatorial – a presidência Costa e Silva –, não foi diferente.
Para além de graves problemas de infraestrutura e falta de vagas no ensino superior, que motivaram diversos tipos de protestos dos estudantes, a natureza autoritária do regime e a forma truculenta pela qual a ditadura reprimiu as manifestações acabou gerando ondas de protestos em vários momentos do ano.
No documento do NACE CNV-Brasil desta semana, trazemos um memorando de conversação do Consulado de Porto Alegre com dois atores que tinham percepções muito diferentes sobre as causas dos protestos estudantis no Brasil, sua natureza e a forma de responder à sua ascensão: de um lado, um professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Leônidas Xausa; e, do outro, o general Carlos Alberto Fontoura, chefe de Estado do 3º Exército, no Rio Grande do Sul.
Entre os vários pontos interessantes que aparecem nas entrevistas do prof. Xausa e do general Fontoura, chama a atenção a visão profundamente conspiracionista que o chefe de Estado do 3º Exército tinha sobre as manifestações estudantis.
Para o general Fontoura, os protestos de estudantes que vinham ocorrendo no Brasil seriam, nada menos, que “parte de uma conspiração da Internacional Comunista” para desestabilizar e, em última instância, derrubar “governos livres”, entre os quais o brasileiro (apesar de ser um regime autoritário, era comum que militares não entendessem a ditadura como ditadura, enquadrando-a como uma forma de “governo livre”).
O general Fontoura, em diversos momentos, apontou que tinha certeza de que as manifestações estudantis seriam, única e simplesmente, obra de “agitadores profissionais”, interessados não em resolver problemas do ensino superior brasileiro, mas em criar “agitação política”.
Seria exatamente esse tipo de mentalidade conspiratória e polarizante demonstrada pelo general Fontoura que daria espaço a um processo de crescente repressão contra movimentos da sociedade civil brasileira, gerando, no final do ano, a decretação do AI-5.
Prof. Dr. Felipe Loureiro,
Vice-coordenador do NACE CNV-Brasil,
Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo