Documento da Semana — A mudança de papéis: Ademar de Barros, de caçador a caça na ditadura militar

Veja aqui o documento da semana em destaque! A mudança de papéis: Ademar de Barros, de caçador a caça na ditadura militar.

Confira o documento na íntegra no nosso acervo: Telegrama de Niles W. Bond para o Departamento de Estado sobre o pedido de asilo político de Adhemar de Barros

Imagens do ex-governador do estado de São Paulo, Ademar de Barros (1901-1969). / br_rjanrio_ph_0_fot_10700

A coalizão golpista que derrubou o presidente João Goulart com o golpe de 1964, reunindo empresários, políticos e diversos segmentos das Forças Armadas, começou a se esfacelar meses após ter atingido o poder. Uma das razões pelas quais isso ocorreu teve a ver com a perseguição que segmentos militares autodenominados “linha dura” começaram a fazer contra figuras identificadas como “subversivas” e/ou “corruptas” no interior da própria coalizão golpista. Um dos principais exemplos nesse sentido foi o caso do governador de São Paulo, Ademar de Barros.

Ademar teve participação ativa na preparação do golpe de 1964. Após a derrubada de Goulart, o governador paulista inicialmente foi um dos defensores da necessidade de se implementar medidas duras contra “subversivos”, apoiando cassações e suspensões de direitos políticos a rodo, além de ter sido responsável por uma blitz de prisões em São Paulo que chocou os membros do Consulado ianque na capital paulista. A partir do momento, porém, em que setores militares e civis ditos da “linha dura” passaram a mirar não apenas “comunistas e simpatizantes”, mas também “corruptos” como alvo da chamada Operação Limpeza, Ademar rapidamente passou de caçador à caça – e, com isso, suas posições antes ultraradicais de expurgo de esquerdistas deram lugar a posicionamentos cada vez mais moderados.

No documento desta semana do NACE, temos um episódio marcante nessa história. Em meio à campanha da linha dura para cassá-lo e prendê-lo, o governador Ademar de Barros decidiu, em agosto de 1964, pedir ajuda desesperada ao secretário político da Embaixada norte-americana no Rio de Janeiro, Niles Bond.

Segundo Ademar, a proteção que o ministro da Guerra, Costa e Silva, vinha lhe prestando perigava não ser mais suficiente devido às rusgas que estavam começando a se desenvolver entre Costa e Silva e o general-presidente Castello Branco. Em razão disso, o governador solicitou a Niles Bond um visto emergencial para os Estados Unidos para a eventualidade de ele ter de fugir do país, escapando da prisão.

No final das contas, a cabeça de Ademar acabaria sendo poupada naquele momento, dando ao governador paulista mais alguns anos de sobrevida. Em meados de 1966, quando Costa e Silva já havia saído do ministério da Guerra, tendo se tornado candidato oficial para sucessão presidencial, o governo Castello interviria em São Paulo, suspendendo os direitos políticos de Ademar, o que daria fim à carreira de uma das mais controversas e carismáticas lideranças do Brasil pós-guerra.

Prof. Dr. Felipe Loureiro,

Vice-coordenador do NACE CNV-Brasil,

Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo

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