Documento da Semana — O olhar norte-americano sobre Leonel Brizola: do radical ao conciliador  

Veja aqui o documento da semana em destaque! O olhar norte-americano sobre Leonel Brizola: do radical ao conciliador  

Confira o documento na íntegra no nosso acervo: Memorando de Robert Pastor para Zbigniew Brzezinski sobre potenciais financiadores de Leonel Brizola

Leonel Brizola em Brasília, DF. / BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_15475

Quando se fala em Leonel Brizola e a ditadura militar, normalmente a primeira imagem que vem à cabeça é a do governador do Rio Grande do Sul responsável por impedir o golpe militar contra Goulart em 1961 e por expropriar empresas norte-americanas de energia e de telefonia, ou a do deputado federal pela Guanabara que, entre 1963 e 1964, foi uma das figuras políticas que melhor representou a esquerda nacionalista radical, pregando a necessidade de reformas de base e fazendo duríssimas críticas ao imperialismo norte-americano. Não à toa, e sobretudo por ter estado envolvido em algumas tentativas de foco guerrilheiro no Brasil no início da ditadura, os militares tinham verdadeira aversão a Brizola e aos valores que ele representava.

Mas o Brizola que retornaria ao Brasil após quase duas décadas de exílio, em 1979, seria bem diferente. Apesar de ter mantido uma visão de mundo progressista, Brizola se caracterizaria por uma postura bem mais acomodatícia e conciliatória frente à ditadura, tendo inclusive, quando de sua primeira passagem pelo governo estadual do Rio de Janeiro (1983-1987), mantido muitas vezes uma relação de cordialidade com a última administração militar da ditadura, a de João Batista Figueiredo.

O documento dessa semana traz uma fotografia desse novo Brizola a partir do olhar norte-americano. Após ter saído de seu exílio no Uruguai, Brizola se dirigiria aos Estados Unidos e, de lá, teve oportunidade de conversar e de manter contato com importantes personalidades da administração Jimmy Carter, entre os quais o encarregado de América Latina junto ao Conselho de Segurança Nacional norte-americano, Robert Pastor. Em comunicado com o Conselheiro de Segurança Nacional de Carter, Zbigniew Brzezinski, Pastor não apenas anexa uma interessantíssima carta de Brizola, como adiciona também um memorando de conversação que Pastor teve com ex-governador gaúcho em Nova Iorque em dezembro de 1977.

Nessa interessantíssima conversa, entre outras coisas, Brizola se diz um admirador dos Estados Unidos, em particular do governo Carter, que, com sua agenda de direitos humanos, estaria “trazendo novos ares para o mundo”, teria dito Brizola a Pastor. Brizola também demonstrou apoio à candidatura à presidência que vinha sendo desenvolvida no Brasil pelo ex-governador de Minas Gerais (e um dos principais articuladores golpistas de 1964), Magalhães Pinto. Segundo Brizola, a atitude de Magalhães Pinto, ao enfrentar o governo Geisel e bater na tecla sobre a necessidade de uma presidência exercida por um civil, seria um ato “quixotesco” mas extremamente importante para a redemocratização que se lutava no país.

Ainda demoraria um pouco para que Brizola pudesse retornar do exílio, algo que só se viabilizaria com a Lei da Anistia de 1979, mas as características de moderação que, em parte, caracterizariam o brizolismo a partir de seu retorno ao Brasil já estavam presentes em 1977, como seus contatos com membros do governo Carter interessantemente apontam.

Prof. Dr. Felipe Loureiro,

Vice-coordenador do NACE CNV-Brasil,

Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo

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