Documento da semana! Aliança para o Progresso: como os Estados Unidos entendiam o papel do Brasil na Guerra Fria

Veja aqui o documento da semana em destaque! Aliança para o Progresso: como os Estados Unidos entendiam o papel do Brasil na Guerra Fria
Confira o documento na íntegra no nosso acervo: Memorando de Roberto de Jesus Toro para Teodoro Moscoso, contextualizando a política e economia brasileira e preocupações dos EUA no Brasil
Abbie Rowe. White House Photographs. John F. Kennedy Presidential Library and Museum, Boston

Aliança para o Progresso: como os Estados Unidos entendiam o papel do Brasil na Guerra Fria

Em maio de 1962, chegaria ao Brasil uma missão enviada pelo coordenador da Aliança para o Progresso (programa de ajuda econômica dos EUA para a América Latina), Teodoro Moscoso, a fim de avaliar as perspectivas de ajuda econômica ao Brasil de Goulart e, sobretudo, aos estados brasileiros. 

Essa missão seria composta por vários membros, entre os quais o economista Roberto Jesus Toro, o qual produziria um relatório sobre a missão, que é o documento da semana do NACE CNV-Brasil.

Há várias coisas notáveis no relatório de Jesus Toro: a primeira é que poucos documentos ianques expressam de forma tão límpida e clara a percepção de representantes norte-americanos sobre a importância estratégia que o Brasil representava para os Estados Unidos na Guerra Fria global. 

Um dos trechos do relatório de Jesus Toro diz: “se os comunistas em algum momento assumirem o controle deste país, a posição dos Estados Unidos na América Latina poderá estar condenada”.

A outra característica notável do relatório é que Jesus Toro explicita, como poucos antes dele, a lógica por detrás da política de ajuda econômica norte-americana a estados brasileiros – aquilo que, posteriormente, o embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, chamaria de “ilhas de sanidade administrativa”. 

Jesus Toro argumenta, sem melindres, que deveria haver uma “política não-escrita” para “separar os amigos dos inimigos”. Ou seja, para os amigos, como era o caso do governador da Guanabara, Carlos Lacerda, deveria existir o mínimo de análise para aprovação de empréstimos – a aprovação deveria ser quase automática.

Para inimigos, porém, como era o caso do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, o tratamento dispensado deveria ser “gélido”. 

No fundo, Jesus Toro pregava pela necessidade do uso político explícito dos recursos da Aliança para o Progresso no Brasil para estados da federação, que seria exatamente o que Washington faria durante grande parte do governo Goulart, colocando mais um tijolo na política de desestabilização que, em março de 1964, derrubaria o presidente brasileiro e abriria 21 anos de ditadura no país.

Prof. Dr. Felipe Loureiro,

Vice-coordenador do NACE CNV-Brasil,

Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo

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