Documento da semana! Vernon Walters e a política brasileira: a presença do adido militar norte-americano na ditadura

Veja aqui o documento da semana em destaque! Vernon Walters e a política brasileira: a presença do adido militar norte-americano na ditadura
Confira o documento na íntegra no nosso acervo: Telegrama de John Wills Tuthill ao Secretário de Estado em Washington D.C. sobre uma conversa entre Vernon A. Walters e Arthur da Costa e Silva
Vernon Walters como embaixador dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU) em 1985
Fonte: U.S. National Archives and Records Administration NAID: 6402382, 12 out 1985.

Vernon Walters e a política brasileira: a presença do adido militar norte-americano na ditadura

Um dos personagens mais importantes da história brasileira antes e depois do golpe de 1964 foi o adido militar norte-americano, Vernon Walters, que se tornou adido no país no final de 1962 a pedido do então embaixador Lincoln Gordon. O embaixador queria alguém que pudesse fazer uma ligação eficiente com os militares brasileiros; e Walters, que falava português fluentemente e havia sido o elo entre as tropas brasileiras e norte-americanas nos campos da Itália durante a 2ª Guerra Mundial, podia fazer isso como ninguém – e fez. 

O que poucos sabem é que Walters continuou tendo papel na política brasileira mesmo depois de ter deixado o posto de adido militar norte-americano no Brasil, no final de 1966. Ele continuaria vindo para o país com frequência e conversando, de forma íntima, com as mais importantes lideranças militares brasileiras do período.

No documento desta semana temos um exemplo notável nesse sentido. Walters visitou o Brasil em abril de 1967 e teve oportunidade de conversar com o presidente Costa e Silva; a Embaixada, claro, relatou detalhadamente a conversa para seus superiores em Washington.

O encontro Costa e Silva-Vernon Walters deu-se no início da segunda administração militar da ditadura. Costa e Silva havia acabado de assumir o poder e, à época, setores progressistas nutriam esperança de que o governo dele pudesse ser o início de um processo de normalização da política brasileira, encaminhando-se para um retorno ao Estado Democrático de Direito.

Como sabemos, a história seria bem diferente – na realidade, o governo Costa e Silva acabaria marcado pelo recrudescimento da ditadura, tendo baixo aquele que é considerado como o mais draconiano e duro dos Atos Institucionais impostos pelos militares à sociedade: o AI-5, em dezembro de 1968.

Nos idos de abril de 1967, porém, a perspectiva era outra, mas na conversa com Walters conseguimos antever alguns preconceitos importantíssimos de Costa e Silva que marcariam o aprofundamento do autoritarismo durante a sua presidência. Um desses preconceitos, e que teria papel importante para a radicalização de militares no período imediatamente anterior à decretação do AI-5, referia-se à suposta “infiltração comunista” – ou, no mínimo, esquerdizante – da imprensa brasileira. 

Costa e Silva reclama da forma como a imprensa brasileira retratou o presidente norte-americano na Conferência de Punta de Este de 1967 – Johnson havia cochilado entre alguns discursos de estadistas latino-americanos e isso foi pescado por jornalistas brasileiros –, dizendo que a suposta infiltração comunista em nossa imprensa a faria profundamente anti-Estados Unidos. 

Ao final das contas, seria exatamente esse tipo de pensamento conspiratório e extremista que daria base para a imposição de uma dura censura à imprensa após a decretação do AI-5.  

Prof. Dr. Felipe Loureiro,

Vice-coordenador do NACE CNV-Brasil,

Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo

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