Documento da semana! Índice ideológico dos candidatos das eleições de 1962

Veja aqui o documento da semana em destaque! Índice ideológico criado pelos Estados Unidos sobre os candidatos às eleições de 1962 no Brasil
Confira o documento na íntegra no nosso acervo: Relatório de Robert W. Dean com informações preliminares sobre as eleições brasileiras de 1962 – NACE CNV-Brasil (usp.br)
O Presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, cumprimenta o Presidente do Brasil, João Goulart, em frente a um carro, na saída do Presidente Goulart da Casa Branca após sua reunião. O Executive Office Building é visível ao fundo. Entrada da ala oeste, Casa Branca, Washington, D.C.
Abbie Rowe. White House Photographs. John F. Kennedy Presidential Library and Museum, Boston

Apoio dos Estados Unidos a candidatos conservadores nas eleições de 1962 no Brasil

Muito se fala sobre a intervenção norte-americana no golpe de 1964, mas menos se analisam os diferentes tipos de violação da soberania brasileira perpetradas pelos Estados Unidos ao longo do governo João Goulart (1961-1964).

Um dos maiores exemplos de violação da nossa soberania naquele período ocorreram durante as importantíssimas eleições gerais de outubro de 1962, quando seriam eleitos governadores de 11 dos 21 estados da federação, para além de toda a Câmara de Deputados e dois terços do Senado Federal.

A intervenção de Washington nessas eleições se deu, principalmente, por meio do apoio a candidatos que faziam oposição às esquerdas. O objetivo era constranger a capacidade de atuação política do governo Goulart, obrigando-o a conviver com governadores e com um Congresso de perfil mais conservador.

Como forma de diferenciar o joio do trigo no período eleitoral, a Embaixada norte-americana no Rio elaborou um impressionante índice ideológico com sete categorias, indo de comunista (categoria 1) a extremistas de direita (categoria 7).

Solicitou-se aos Consulados ianques no Brasil (Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, São Paulo), além do escritório da Embaixada em Brasília, que classificassem todos os candidatos a governador, deputado federal, senador e deputado estadual de acordo com esse índice ideológico.

Segundo as próprias palavras do Primeiro-Secretário da Embaixada dos EUA no Rio, Robert W. Dean, no Telegrama Aéreo A-891: “não se pode dizer quem são os jogadores sem um cartão de pontuação”. O índice ideológico servia exatamente como esse score card.

Das sete categorias, duas eram consideradas proibidas por Washington: “comunistas” (categoria 1) e “companheiros de viagem” dos comunistas (categoria 2), ou seja, aqueles que não eram comunistas de carteirinha, mas que, na prática, seguiam a linha política dos comunistas.

A categoria 3 (ultranacionalista de esquerda) também era indesejável. As preferíveis seriam a de número 4 (reformista não-comunista) e 5 (centrista). O financiamento de Washington a candidatos dependeria essencialmente desse perfil ideológico visto como favorável aos interesses estratégicos ianques.

No final, as eleições de 1962 não produziriam uma maré conservadora; pelo contrário, setores progressistas fizeram importantes ganhos nos estados e no Congresso Nacional durante o pleito.

Mas, sem dúvida, o apoio norte-americano ao lado contrário impediu uma derrota ainda maior das direitas, algo que teria importantes consequências para o futuro do governo João Goulart, especialmente para a sua malograda tentativa de aprovação de reformas de base no país.

Prof. Dr. Felipe Loureiro,

Vice-coordenador do NACE CNV-Brasil,

Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo

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